
Ela é que tem coragem.
Ainda é mais bela assim.
Ela espera e é bela nessa espera, ela é a mulher mais bela da beira do cais e dos saveiros.
- Como é o nome dela?
- Lívia!
Ela se chama Lívia.
Ele não conheceu mulher nenhuma com esse nome.
Lívia o nome que ele dirá quando cair.
Lívia o espera, ele sabe. A noite é para o amor e ela o espera.
Quem não gostaria de casar com Lívia e ser chorado por ela quando morresse no mar?
A noite é para o amor e o amor para ele é Lívia. Ele não quer amor de aventuras, amor de acaso, uma cabrocha qualquer. Foi Lívia que Iemanjá lhe mandou, ele não pode discutir as ordens de Iemanjá.
Boa viagem... Boa viagem, que ele vai em busca de Lívia.
Ele vai buscar Lívia, ele vai buscar uma mulher bonita para oferecer ao mar. Não demorará muito a carne de Lívia terá o gosto da água salgada do oceano, os seus cabelos serão úmidos dos salpicos do mar, e cantará no Valente as canções do cais.
Lívia não conhece nada da vida do mar. Tudo é rápido e incerto na vida do mar. Até o amor tem pressa. Lívia passou linda e ele ria para todos sem mesmo saber de quê. A tarde fria de Junho caía sobre a cidade. 0 cais já estava iluminado. Eles desceram a ladeira do morro.
Mas Lívia não era do cais. Viera para ali por causa de um homem a quem amava. E temia por ele, procurava um meio de salvá-lo, de quando nada, morrer como ele. Lívia o abraçou.
No mar o encontrará para as noites de amor. Suas lágrimas serão sem desespero. Lívia de braços fechados no peito. Lívia silenciosa. 0 frio entrava pelo seu corpo. Mas a música vinha como um calor, um calor e uma alegria. O seu homem estava longe, morto no mar.
Lívia de gelo, Lívia perfeita, de cabelos molhados escorrendo no pescoço. Não veria o corpo dele, que os homens se cansaram de procurar com uma vela no mar de óleo, parado, fechado como o corpo de Lívia.
Os outros rondavam na sua porta. Rondavam seu corpo sem dono, seu corpo perfeito. Lívia desejada por todos fechou os braços sobre o peito. Nenhum soluço balançou seu colo moreno. Vinha a música quente do negro:
É doce morrer no mar...
Por Jorge Amado!